‘O principal desafio do câncer hoje é o rastreio’, diz especialista 175i4x
Médico brasileiro que organizou novo tratado sobre a doença discute as dificuldades atuais e os avanços em diagnóstico e tratamento 6t71k

Doença que se tornou mais prevalente com o envelhecimento e as mudanças de hábitos da população, o câncer representa uma das maiores ameaças à qualidade e à expectativa de vida da sociedade atual – tendo inclusive, em algumas circunstâncias, aparecido mais cedo.
Formar melhor médicos para atuar desde a prevenção até o tratamento é, portanto, uma demanda incontornável diante desse grupo de doenças em ascensão. Foi com esse propósito que o oncologista brasileiro Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, organizou o livro técnico Medical Oncology Compendium, que acaba de ser publicado pela editora Elsevier.
O tratado de atualização sobre o problema de saúde pública conta com a colaboração de especialistas brasileiros e estrangeiros. Mello, que é pesquisador da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e oncologista de hospitais como o Einstein e o Oswaldo Cruz, em São Paulo, falou a VEJA sobre desafios e progressos frente ao câncer.

Pensando do ponto de vista da saúde pública, qual é o principal desafio representado pelo câncer hoje?
O principal desafio no câncer hoje é o rastreio, porque a gente precisa conscientizar as pessoas de que é fundamental atuar de forma preventiva. E o próprio oncologista pode trabalhar nesse sentido. Muitas vezes, as pessoas olham para esse médico de forma negativa, como aquele profissional que vai atuar apenas no momento da doença avançada. Nosso grande propósito é tentar educar as pessoas para a prevenção. Afinal, é uma das doenças que mais acometem a população hoje em dia.
Em relação ao diagnóstico, qual foi o grande avanço nos últimos anos?
Em relação ao diagnóstico, um dos grandes avanços é a biópsia líquida. Hoje já é possível você fazer uma biópsia pelo sangue para diagnóstico do câncer sem precisar de biópsia tecidual. Esse tipo de exame já está disponível no Brasil. Nossa clínica mesmo tem parceria com um laboratório no Reino Unido para onde a gente envia as amostras a serem analisadas. A vantagem é poder fazer o diagnóstico sem uma biópsia que exigiria um corte em um órgão ou tecido.
E quanto ao tratamento, se pudesse destacar uma terapia divisora de águas, qual seria?
Uma das terapias divisoras de água seria a classe das imunoterapias que foram lançadas recentemente. Então, hoje em dia você tem medicamentos que modulam o sistema imune contra o próprio tumor, e isso é um grande avanço. Obviamente, mecanismos de resistência têm que ser estudados nesse contexto, mas a imunoterapia foi um divisor de águas.
Olhando para as fronteiras da medicina, o que esperar de revolucionário na oncologia em termos de sobrevivência ou cura dos pacientes no futuro próximo?
A oncologia tem avançado bastante. Atualmente, falamos de uma doença que, quando é tratada de forma adequada, com todos os recursos disponíveis, de preferência na fase precoce, muitas vezes pode ser curada. O que também se vê cada vez mais são pacientes que am a viver cronicamente com um câncer, mantendo a qualidade de vida. Mas esperamos que no futuro as taxas de cura sejam bem maiores.
Qual é o grande diferencial do seu novo livro em relação aos tratados e obras técnicas de oncologia?
Esse livro tem um grande diferencial: ele é um livro que oferece uma abordagem didática dos termos da oncologia, incluindo também questões de múltiplas escolhas comentadas e casos clínicos, para estimular também que o leitor tenha uma percepção prática do que está estudando. Além disso, também é um livro com colaboração nacional e internacional, com nomes de instituições de peso como Oxford, Cambridge, Memorial Hospital, entre outras. A ideia é que a obra seja uma referência para o estudo e o aprimoramento de oncologistas, podendo ajudá-los inclusive nas provas de título da especialidade.