Livros que, cada um à sua maneira, tratam das conexões, rupturas e transições entre uma visão mágica e mais científica do mundo 17610

Há quem diga que primeiro veio a crença na magia, depois a religião, em seguida a filosofia e dela brotou a ciência. Sabemos, contudo, que essa linhagem não é tão linear assim. E a prova disso é que, goste-se ou não, o pensamento mágico continua popular numa era de descobertas e invenções ancoradas na física subatômica, na genômica e na inteligência artificial.
Refletir sobre as transições e as rupturas entre o que se convencionou chamar de mitologia, religião, mística e uma visão de mundo racional é, portanto, tarefa que continuará a interessar pensadores e profetas, cientistas e curandeiros, teólogos e céticos, estejam eles convictos ou não de suas ideias.
Para desbravar esse território de fronteiras, por vezes borradas, vale a pena se debruçar nas páginas de quatro obras lançadas recentemente no país – entre a pesquisa histórica e a ficção. Elas têm muito a dizer sobre o que angustia, liberta e move a humanidade.
Da mística à ciência q1w1z
Autor: Alexandre Koyré
Tradução: Thomaz Kawauche
Editora: Unesp
Páginas: 464
Francês de origem russa, Alexandre Koyré (1892-1964) foi um filósofo que se dedicou tanto à história da ciência, da qual é um dos precursores modernos, quanto à gênese e ao desenvolvimento do pensamento religioso. Ao mesclar e contrastar ambos os campos do conhecimento, investigou, baseado em robusta pesquisa, quando o imaginário místico abre caminho a noções e aos progressos científicos – e vice-versa. Ora, se a alquimia foi mãe da química no início da era moderna, hoje conceitos de física quântica são apoderados (e, não raro, distorcidos) pelos curandeiros do século XXI. O livro recém-apresentado aos brasileiros reúne, de forma inédita, aulas e conferências do intelectual, que fornecem uma súmula de seus achados e lições, ainda mais quando se tem em mente que ele não nos legou tantas obras publicadas. Os dois últimos textos, aliás, oferecem uma sucinta introdução a suas ideias.
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História da filosofia oculta 4d4l10
Autor: Sarane Alexandrian
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza
Editora: Chave/ Veneta
Páginas: 456
O filósofo, historiador da arte e escritor francês nascido no atual Iraque Sarane Alexandrian (1927-2009) propõe uma viagem pelo itinerário da filosofia oculta, aqui entendida como um conjunto de ideias que se separa tanto das religiões tradicionais como do corolário científico erigido no Ocidente, embora inúmeras vezes existam conexões entre eles. E o faz tanto livre do “charlatanismo exaltado” como do “racionalismo restritivo”, como expressa em suas palavras. O ponto de partida são os cultos gnósticos que surgiram na mesma época de ascensão do cristianismo e rapidamente seriam vistos como heresias pela Igreja. A jornada pera os mistérios da cabala, a alquimia, a astrologia, a geomancia, as curas místicas, os sabás e a magia sexual, oferecendo não apenas um panorama dos ramos e metamorfoses da “filosofia oculta” – termo descrito pelo alemão Cornelius Agrippa no século XVI, um dos personagens do livro -, mas também um banquete de insights sobre a necessidade psíquica, social e existencial de lidar com aquilo que está além do nosso conhecimento e controle.
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5844m
Os inícios da filosofia na Grécia 14o42
Autora: Maria Michela Sassi
Tradução: Dennys Garcia Xavier
Editora: Todavia
Páginas: 356
Sócrates e seus discípulos, como Platão e Aristóteles, são retratados frequentemente como os pais da filosofia ocidental. Tamanha influência se faz sentir até quando a gente se detém no modo como foram designados os pensadores que os precederam – são os pré-socráticos. Especialista em filosofia antiga, a italiana Maria Michela Sassi retrocede nos séculos para contar e analisar o berço do pensamento grego a partir dos fragmentos deixados pelos anteados intelectuais de Sócrates e companhia – um time de nomes que inclui Tales, Anaximandro, Heráclito, Parmênides… Mais do que focar em cada um desses luminares, a professora apresenta um horizonte de evolução de ideias, algumas das quais seriam recuperadas bastante tempo depois, em contextos diferentes. Ao examinar as origens desse panteão do saber, Sassi expõe como a filosofia grega esteve amalgamada aos mitos e às crenças nas deidades e inclusive bebeu de influências orientais. E mostra também de que forma, ainda com os pré-socráticos, despontaram as primeiras visões da natureza e da vida descoladas e libertadas dos poderes divinos.
Os inícios da filosofia na Grécia 14o42

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5844m
O Mago 1u5v5i
Autor: John Fowles
Tradução: Antonio Tibau e Thiago Silva
Editora: DarkSide
Páginas: 736
O romance do inglês John Fowles (1926-2005) é sedutoramente perturbador – e uma metáfora engenhosa de como a existência humana é tocada por mistérios que desafiam a compreensão racional do mundo. Na obra publicada nos anos 1960 que ganha uma nova e caprichada edição no país, acompanhamos um jovem britânico que, entre encontros e desencontros amorosos, conquista um emprego de professor numa pequena ilha grega, o palco dos acontecimentos que instigarão e confundirão o leitor pelas mais de 700 páginas do catatau. É ali, sob a influência do clima e dos ventos do Mediterrâneo, que o protagonista conhecerá um enigmático magnata e será tragado por vivências que ora ressoam a um culto de nuances sobrenaturais, ora parecem etapas de um grande experimento psiquiátrico. Este é um livro em que os limites entre realidade e ilusão – e entre em quem e no que podemos confiar – são testados do começo ao fim.
O mago 214t2e

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